Queria escrever esse texto de uma forma otimista e que pudesse de alguma forma direcionar as pessoas, ou até mesmo a mim, mas não é bem assim que vai acontecer. 

Acho que todos nós somos bons em algo na nossa caminhada aqui na Terra, temos diversas qualidades, assim como defeitos, diversas capacidades, talentos, entre uma infindável quantidade de coisas que podemos fazer. Com o decorrer da nossa vida vamos entendendo como os processos ocorrem, mas principalmente, vamos nos conhecendo cada vez mais. Um fato, nunca conseguiremos fazer isso 100%, então tá tudo bem ficar meio perdido as vezes, tá? Mas, voltando ao que eu vos dizia, dado a maturidade que vamos adquirindo na vida vamos percebendo algumas coisas, sabendo nossos pontos fortes e fracos, sabendo onde podemos pisar, onde não podemos, em quem confiar, em quem não confiar, em que somos bons, em que não somos bons e por aí vai. 

No decorrer dos meus 21 anos de vida, consegui perceber algumas das coisas eu me orgulho em dizer que sou bom, outras das quais eu tento ser e de algumas coisas que falho não importa quantas vezes eu tente. Não estou falando para vocês sobre a minha péssima habilidade em atividades que exigem uma coordenação motora impecável, como desenhar, mas hoje me refiro aos meus maiores sentimentos, as minha feridas narcísicas, as minhas mais profundas cicatrizes que infelizmente terei que trabalhar bastante dentro de mim, ou simplesmente escolher superar. 

Dentro dessa minha caminhada de pouco mais de duas décadas eu percebi que despedidas não são do meu agrado. Quem convive comigo ou quem, muitas vezes, apenas me vê poucas vezes consegue perceber a minha boa facilidade de comunicação, de fazer novas amizades, de formar novos laços, de fazer coisas que às vezes a maioria das pessoas tem vergonha. No entanto, poucas pessoas sabem o que realmente ocorre aqui dentro. Amo formar novos laços, conhecer novas pessoas e outras coisas das quais já citei acima, porém, simplesmente ODEIO ter que de alguma forma me despedir, seja qual for a despedida. 

Mas, Christian, outro dia você falou sobre fechar ciclos da vida, como isso não se aplica as despedidas? 

Simples, na vida muitas vezes precisamos fazer escolhas e algumas delas são necessárias para nosso crescimento, as despedidas, em algumas das vezes, também são necessárias para que cresçamos, mas, recuso-me a acreditar que devamos ter que dar adeus a pessoas que amamos. Não consigo compreender a linha de raciocínio principalmente da finitude, confesso que, às vezes, até fujo dessa tentativa de compreensão. Mas, dar adeus sempre foi algo muito difícil. Dar adeus e fechar aquela relação para sempre, nunca foi algo fácil par mim, nunca houve um total entendimento do porquê e muito menos do para que. 

Quando conheço e formo novos laços nunca me passa pela mente a ideia de ter que dizer adeus ou ter que apagar aquelas pessoas da minha vida. Acho que é por isso que sofro tanto após relações mal sucedidas, não apenas amorosas, mas de todos os tipos. Sempre postergo ou tento barganhar, buscando argumentos dos quais não existem para que aquela pessoa se mantenha na minha vida por mais um tempinho, mesmo que me cause dor. 

Mas... acho que saí um pouco do rumo, mas, quero focar, na situação na qual precisamos dar adeus para sempre. Quando alguém que amamos muito simplesmente se foi. Muitas vezes não há explicação, apenas uma dor ENORME que nos consome por dentro e uma saudade incapaz de caber dentro de palavras. Como lidar com isso? Como entender? Por que isso aconteceu? Por que tão de repente? Por que com essa pessoa? Por que comigo? Por que isso dói tanto? Por que.... ???? 

São tantas perguntas que nunca encontrarei respostas. Isso que mais me dói. Como bom cientista que sou, gosto dos fatos, de compreender tudo, de ter controle sobre tudo. Por mais que eu converse bastante sobre isso na terapia e todas as vezes reforço pra mim mesmo que não tenho controle de tudo e principalmente sobre a vida das pessoas, esse mantra falha na maioria das vezes. Acho que se ao menos existissem respostas para minhas tantas perguntas eu poderia compreender melhor. Acho que poderia tentar sentir um alívio maior. 

Não me contento em saber que aquela foi a última vez que vi quem eu amava, que sorri junto, que abracei, que disse que amava, que conversei, que fiz o que fazíamos de melhor quando estávamos juntos. Não me contento em saber que a relação foi interrompida de forma tão abrupta, que o adeus ele precisa sair, não por uma escolha madura, mas sim por uma obrigação, por uma realidade que me foi imposta. Não consigo aceitar muitas das coisas que a vida me impõe, e por isso todas as vezes eu sofro. 

O luto é um processo extremamente delicado, gostaria de poder ter frases boas e com efeitos significativos com a capacidade de mudar vidas, mas infelizmente, sou apenas mais um que sofre com a ausência de quem ama, sou apenas mais um que teve um pedaço do seu peito arrancado de forma tão abrupta, sem nenhum aviso prévio, sem preparo, sem analgesia. A dor e a saudade parece que só crescem, parece não existir remédio eficaz de diminuir esses sentimentos que crescem com tanta força destrutiva dentro de mim. 

O rotineiro "seja forte" não é algo que faz muito parte do meu dicionário. Para mim, seja fraco quantas vezes você precisar, se deixe sofrer, permita que essa dor seja sentida, minha amiga Hazel Grace sempre me alertou de que precisamos sentir a dor. Pois, só assim conseguiremos seguir em frente. Não importa o que digam, ninguém está na sua pele, ninguém sabe das suas dores e cicatrizes, ninguém lhe entende da forma como nós nos entendemos. Então, mesmo ainda com muita dor e com muita dificuldade para processar todas as vezes que a vida me impôs esse "adeus", consigo dizer que é necessário que vivamos esse momento, quem sabe nele encontremos algum significado antes não visto, ou até mesmo a resposta para alguma das inúmeras perguntas. 

Sim, continuo odiando dizer adeus, na minha cabeça apenas adiei um encontro que estava predestinado a acontecer. Continuo odiando ter viver essa dor avassaladora da perda. Continuo odiando com todas as células do meu corpo a forma como perco o controle das coisas, simplesmente por não entender quais são os propósitos para tais coisas. 

Enquanto o remédio não é feito, ou enquanto a dor não cessa, serei fiel ao que eu acredito e me permitirei ser humano e senti-la, da minha maneira, da forma como eu achar conveniente e, principalmente, nos momentos que ela se achar necessário manifestar-se. 

Por enquanto, apenas aceito esse pequeno ou grande defeito que tenho. 

Por enquanto, apenas aceito a certeza que eu tenho: odeio despedidas. 


   
            Christian Fernandes

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